Debunking Cerebal
Como é que vamos contar a verdade acerca do cancro do cérebro?
Através de uma...
Legenda Cerebrástica
A verificação de informações tornou-se uma ferramenta para combater a desinformação, especialmente nas redes sociais, onde os conteúdos se disseminam com rapidez e volume significativos. Neste contexto, optou-se pela análise de publicações no formato de debunking. Este método, conforme descrito por Claire Wardle no First Draft News, destina-se a desmentir publicações que circulam na internet, contrastando com outros métodos como fact-checking, mais focado em discursos públicos, ou verification, direcionado à validação de imagens e vídeos.
As notícias analisadas foram todas identificadas nas redes sociais, espaços que facilitam o crescimento de rumores e mitos devido à limitada capacidade de análise crítica dos utilizadores face ao volume de conteúdos. Wardle sublinha que, embora o debunking desempenhe um papel essencial, existe o risco de amplificar a visibilidade de conteúdos enganosos ao abordar diretamente estas publicações. Logo, surge a relevância de promover uma abordagem que eduque os leitores e promova a literacia digital. E é aí que esta avaliação entra em ação!
Para avaliar as publicações são utilizados seis níveis de classificação baseados no impacto da desinformação e na verdade, respetivamente:
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Curto-Circuito- Informação falsa e deliberadamente enganosa, projetada para causar confusão e paralisar o pensamento crítico.
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Déjà Faux- Uma criação completamente inventada, mas apresentada com tanta convicção que pode parecer familiar, como um "déjà vu" fabricado.
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Ilusão Cortical- Conteúdo manipulado, onde parte da verdade foi modificada, enganando a interpretação como uma ilusão visual engana os sentidos.
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Efeito Placebo- Informação verdadeira com um toque de exagero, criando uma percepção distorcida, tal como o efeito psicológico de uma substância inerte.
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Rastro Neuronal- Dados reais, mas apresentados de forma descontextualizada ou confusa, como um rastro que começa sólido mas se perde no meio do caminho.
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Luz Sináptica- Informação clara e precisa, onde todos os "neurónios" da verdade estão conectados. Não há falhas ou ruídos na transmissão.
Legenda “Cerebrástica”
Curto-Circuito
Déjà Faux
Ilusão Cortical
Efeito Placebo
Rastro Neuronal
Luz Sináptica
Não, o Cancro Não é um Fungo:
A Verdade Sobre o Bicarbonato de Sódio
“A principal notícia que circula sobre este assunto diz que câncer é um fungo e que por isso o bicarbonato de sódio pode curá-lo”.
Fonte: Marta Leite Ferreira, Jornal Digital Observador, 2019.
“Cancro é um fungo! E o bicarbonato de sódio ajuda a curar o cancro”, diz oncologista.
Portal Mundão Espetacular no dia 29 de abril de 2018.
Imagem 1- Capturas de ecrã às páginas do documento em que Túlio Simoncini afirma que o cancro é causado por um fungo e que pode ser atacado com bicarbonato de sódio. Créditos: NEXUS. Fonte: Observador, 2019
A ideia de que o cancro é causado por um fungo que pode ser curado com bicarbonato de sódio tem ganho popularidade em redes sociais e espaços de desinformação, mas especialistas alertam que estas alegações carecem de fundamento científico. Esta teoria foi amplamente difundida por Tullio Simoncini, um ex-médico italiano que afirmava que os tumores cancerígenos resultam de infeções fúngicas do género Candida e que o bicarbonato de sódio tinha a capacidade de os eliminar. No entanto, Simoncini perdeu a sua licença médica após vários casos de complicações graves nos pacientes tratados com os seus métodos, como relatado pelo National Cancer Institute.
O cancro, é caracterizado pela proliferação descontrolada de células que invadem ou comprimem os tecidos “normais” do corpo humano, comprometendo funções essenciais, e no caso do cérebro, pode afetar capacidades vitais como a memória, os movimentos básicos, ou até mesmo a comunicação.
Esta doença pode surgir na forma de tumores primários originados diretamente nas células do sistema nervoso, ou nas meninges (as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal). Por outro lado, podem surgir como tumores secundários, ou seja, são tumores que têm a sua origem em tumores de outros órgãos do corpo e que se disseminam para o Sistema Nervoso, ou para as membranas.
Ao contrário do cancro, os fungos são organismos heterotróficos, eucarióticos e uni, ou multicelulares pertencentes ao Reino Fungi, distinto dos animais, plantas e bactérias. Os fungos, enquanto seres heterotróficos, necessitam de matéria orgânica para sobreviver e têm características que os tornam vulneráveis a mudanças no ambiente, particularmente alterações no pH. O uso de bicarbonato de sódio em regiões infestadas por fungos afeta diretamente essa questão, criando condições adversas para o desenvolvimento e a sobrevivência desses seres.
Efeito Placebo
Análise Cerebrástica: Após esta diferenciação, é possível afirmar que o cancro não é um fungo, mas que, por outro lado, o bicarbonato de sódio pode ser uma ferramenta acessível e eficaz em determinados cenários, especialmente onde a alteração do pH pode ser utilizada como uma estratégia de baixo custo para controlar fungos.
O stress aumenta o risco de cancro?
A ciência explica.
O stress crónico, um problema comum na sociedade atual, tem gerado preocupações sobre a sua ligação com o cancro. Apesar da ideia de que pode causar a doença, especialistas e estudos esclarecem que essa relação ocorre de forma indireta, através de comportamentos de risco associados. Instituições como o Instituto Nacional do Cancro dos Estados Unidos e o Cancer Research UK analisam o tema, destacando a necessidade de esclarecer mitos e incentivar cuidados de saúde para prevenção da doença e bem-estar físico e emocional.
Imagem 2- Capturas de ecrã Video Tiktok, utilizador @truehealthsecrets
O stress como parte da experiência humana afeta a saúde física e mental. Contudo, a ideia de que ele pode "causar" diretamente o cancro é um mito. A ciência revela que não há provas conclusivas dessa relação direta, mas destaca algumas ligações indiretas importantes. De acordo com o Instituto Nacional do Cancro dos Estados Unidos, o stress crónico pode contribuir para condições que aumentam o risco de cancro, como a obesidade, a hipertensão e o enfraquecimento do sistema imunitário, que estão associadas a um maior risco de cancro. No entanto, o stress por si só não é suficiente para desenvolver a doença. A relação mais evidente está nos comportamentos associados ao stress, como fumar ou beber álcool, fatores comprovadamente ligados ao risco de cancro, segundo o Instituto Nacional do Cancro dos Estados Unidos e o Cancer Research UK. O impacto do stress também pode ser observado no funcionamento do corpo.
A Clínica Mayo indica que, sob stress prolongado, a produção de hormonas como o cortisol pode ser alterada, comprometendo a imunidade e a reparação celular. Apesar disso, o desenvolvimento de cancro resulta de interações complexas entre fatores genéticos, comportamentais e ambientais.. Estratégias para lidar com o stress incluem educação sobre hábitos saudáveis e práticas restauradoras, como mindfulness, yoga ou caminhadas. Estas iniciativas podem aliviar a pressão emocional e reforçar a saúde física e mental. Além disso, o apoio de profissionais de saúde e de recursos confiáveis é essencial para combater a desinformação. A ciência deixa claro que, embora o stress influencie comportamentos de risco, não é uma sentença de cancro. A chave está na prevenção, no acesso a informação que seja confiável e na promoção de um bem-estar integrado.
Ilusão Cortical
Análise Cerebrástica: Os níveis de stress, por si só, não estão diretamente ligados ao aumento do risco de desenvolvimento de cancro. Contudo, o impacto do stress pode levar a comportamentos ou hábitos de vida que, segundo as instituições citadas, não contribuem para a prevenção da doença. Logo, trata-se de conteúdo manipulado, onde parte da verdade foi modificada, enganando a interpretação.
Quimioterapia, o scam da medicina moderna?
Um vídeo que circula nas redes sociais alega que a quimioterapia tem uma taxa de falha de 97% e que é prescrita apenas para gerar lucro para os médicos. O vídeo, que já acumula mais de 2.400 likes, tem como autor o Dr. Peter Glidden, um médico naturopata conhecido por defender tratamentos alternativos.
Imagem 3- Capturas de ecrã Video Tiktok, utilizador @levi.l.610
A quimioterapia tem uma taxa de falha de 97%?
A eficácia da quimioterapia e as taxas de sobrevivência dos doentes oncológicos variam, dependendo de fatores como o estágio do cancro, tipo de cancro e até a saúde geral do paciente. Por exemplo, nos Estados Unidos, a taxa de sobrevivência de cancro da mama localizado é de aproximadamente 93,1%., o Linfoma de Hodgkin, tratado com quimioterapia, pode alcançar taxas de sobrevivência de até 82%, dependendo do estágio, já para cancro colorretal localizado, a taxa de sobrevivência é de cerca de 90%, mas cai para 13% caso já esteja num estado mais avançado e na saúde geral do paciente alguns hábitos, como fumar, também podem influenciar os resultados. Portanto, a afirmação de que a quimioterapia tem uma taxa de falha de 97% não reflete a realidade dos dados clínicos.
Quimioterapia é prescrita apenas por lucro?
Essa alegação também não é fundamentada. Em países com sistemas de saúde universal, como Reino Unido, Canadá e Austrália, as decisões médicas são guiadas por diretrizes clínicas e não por incentivos financeiros. Nessas nações, os médicos são pagos por sistemas públicos, e não diretamente pelos tratamentos prescritos. Nos Estados Unidos, embora alguns oncologistas possam receber reembolsos maiores ao administrar quimioterapia, sistemas como o Medicare não oferecem lucros diretos por prescrição. Além disso, médicos em todo o mundo seguem códigos éticos que proíbem a prescrição de tratamentos desnecessários para lucro próprio. Prescrever quimioterapia exclusivamente por lucro violaria esses padrões, colocando em risco a licença médica e a reputação dos profissionais.
Quem é o autor do vídeo?
No vídeo podemos ver Dr. Peter Glidden, um naturopata com mais de 30 anos de experiência. Este doutor defende tratamentos naturais, como homeopatia e nutrição medicinal, que carecem de suporte científico.
Análise Cerebrástica: Assim, a alegação de que a quimioterapia tem uma taxa de falha de 97% e é prescrita apenas por lucro é falsa. Gera curto-circuito.
Curto-Circuito
Alerta-se no Instagram que os Airpods estão a cozinhar o teu cérebro com micro-ondas
“Os AirPods estão essencialmente a cozinhar o teu cérebro com micro-ondas” Afirma o influenciador Jeremy Seth numa publicação na plataforma Instagram, no dia 2 de agosto de 2022.
Imagem 4- Capturas de ecrã Post Instagram utilizador @jeremy.awakens,
Como base das alegações, o vídeo remete ao artigo “Os AirPods são perigosos? 250 cientistas assinam petição alertando contra o cancro da tecnologia sem fio, incluindo os fones de ouvido da moda”. Publicado em 2019, o artigo refere-se a uma carta enviada para as direções da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2015, por um grupo de cientistas a manifestar preocupações de segurança relativamente ao aumento da exposição humana a campos eletromagnéticos (EMF) de dispositivos eletrónicos sem fios, como Wi-fi, Bluetooth e redes móveis. Apesar da carta ter sido atualizada em 2019 para acrescentar mais signatários, não existe qualquer referência aos AirPods só colocados à venda em 2016.
O que diz a ciência?
A alegação de que dispositivos como auriculares sem fios ou telemóveis podem causar cancro no cérebro tem sido amplamente discutida nas redes sociais, mas a evidência científica disponível atualmente não suporta essa afirmação.
De acordo com uma análise abrangente encomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e publicada em 2024, os dispositivos sem fios, incluindo telemóveis e auriculares Bluetooth, emitem radiação classificada como não ionizante. Este tipo de radiação é de baixa energia e incapaz de danificar o ADN ou provocar mutações celulares, ou seja, as frequências utilizadas nestes dispositivos são consideradas seguras para o uso humano regular. Uma meta-analise publicada na revista Environmental International, que incluiu 63 investigações conduzidas ao longo de 28 anos em 22 países, não encontrou aumento significativo na incidência de cancros cerebrais, mesmo entre utilizadores de longo prazo destes dispositivos.
Além disso, estudos epidemiológicos realizados em países como Suécia, Reino Unido e Finlândia que acompanharam milhares de utilizadores de telemóveis durante mais de uma década, não identificaram nenhuma correlação estatisticamente significativa entre a exposição a campos eletromagnéticos e a incidência de cancro. A Agência Australiana de Proteção contra Radiação e Segurança Nuclear (Arpansa) corrobora estes resultados, sublinhando que não há evidências robustas de que o uso prolongado de dispositivos sem fios represente riscos para a saúde.
Embora a Agência Internacional de Investigação sobre o Cancro (IARC), também ligada à OMS, tenha classificado a radiação de rádio como um “possível carcinógeno” em 2011, essa categorização foi feita com base em evidências limitadas e preliminares que não forneceram conclusões definitivas. Desde então, estudos mais detalhados têm reforçado que o risco é improvável ou insignificante, mesmo com uso prolongado de telemóveis e dispositivos sem fios.
O professor Mark Elwood, especialista em epidemiologia do cancro, afirmou que, mesmo após mais de uma década de uso intenso de telemóveis e outros dispositivos de frequências semelhantes, não há aumento no risco de cancros cerebrais, leucemias ou tumores em glândulas salivares.
Análise Cerebrástica: A alegação de que auriculares sem fios “cozinham o cérebro com micro-ondas” ou que aumentam o risco de cancro é falsa, com dados baseados em interpretações incorretas. Os estudos apresentados explicam que a radiação não ionizante emitida por estes dispositivos não é capaz de danificar o ADN ou provocar cancro.
Curto-Circuito
Há “Super alimentos” capazes de curar o cancro?
Uma publicação na rede social X, afirma que alimentos como salsa, alho, brócolos e vitamina C têm o poder de “detê-lo”. No entanto, especialistas destacam que, embora uma dieta equilibrada e rica em vegetais contribua para a prevenção de alguns tipos de cancro, nenhum alimento isolado pode curar ou interromper o desenvolvimento da doença.
Imagem 5- Capturas de ecrã Post X utilizador @elzorrotacneno,
O que dizem os estudos?
A relação entre alimentação e o cancro é um tema amplamente estudado, mas frequentemente mal compreendido. De acordo com investigações científicas, nenhum alimento é capaz de curar o cancro, uma vez que a doença resulta de uma interação complexa de fatores genéticos, ambientais e comportamentais. No entanto, certas escolhas alimentares podem desempenhar um papel significativo na sua prevenção.
Estudos sugerem que uma dieta rica em alimentos de origem vegetal, como frutas, legumes e cereais integrais, oferece compostos bioativos com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias que podem ajudar a reduzir o risco de alguns tipos de cancro. Exemplos incluem o licopeno no tomate, os compostos sulforafanos no brócolos e os flavonoides nas nozes, todos associados a potenciais benefícios preventivos.
Por outro lado, o consumo excessivo de alimentos ultra processados e ricos em gorduras saturadas pode aumentar o risco de doenças, incluindo o cancro, devido à sua ligação com obesidade e inflamação crónica. Um estilo de vida saudável, que combine uma alimentação equilibrada, atividade física regular e abstinência de hábitos prejudiciais como fumar, é considerado uma abordagem preventiva mais eficaz do que depender de alimentos específicos para combater a doença.
Ilusão Cortical
Análise Cerebrástica: A alegação de que alimentos como salsa, alho, brócolos e vitamina C "detêm o cancro" é enganosa. Embora estudos indiquem que alimentos ricos em antioxidantes e compostos bioativos possam ajudar na prevenção de certos tipos de cancro, nenhum alimento isolado tem o poder de curar ou interromper o crescimento de células cancerígenas.
Uma vez que existem alimentos capazes de prevenir, será que existem alimentos diretamente relacionados ao aumento de risco de cancro?
Imagem 6- Capturas de ecrã Post X utilizador @HistoriaNoPaint
Imagem 7- Capturas de ecrã Post X utilizador @Drweloveu
Carnes processadas, como bacon e fiambre, e o consumo excessivo de açúcares estão ligados a um risco mais elevado de desenvolver cancro, segundo a OMS. Por outro lado, uma dieta rica em frutas, vegetais e fibras é essencial para a prevenção da doença. Especialistas alertam que os padrões alimentares têm um impacto significativo na saúde e merecem atenção.
Analisaremos os factos
Não existe nenhum alimento que isolado consegue curar o cancro, mas existem certos padrões alimentares que podem influenciar e aumentar o risco de contrair e desenvolver a doença. Alimentos processados, como o bacon, fiambre, salsichas e presunto, são submetidos a processos de conservação que incluem salgação, cura, fermentação e adição de conservantes. Estes processos levam à formação de compostos potencialmente carcinogénicos, como o hidrocarboneto aromáticos policíclicos, principalmente quando os alimentos são cozinhados a elevadas temperaturas. A Agência Internacional para a Investigação do Cancro (IRCA), juntamente com a Organização Mundial de Saúde (OMS), classifica as carnes processadas como carcinogénicas para humanos, com evidências suficientes de que o seu consumo aumenta o risco do cancro do cólon e do reto. O consumo de carnes vermelhas não processadas está classificada como “possivelmente” carcinogénico para humanos, com associações observadas ao cancro do pâncreas e da próstata.
Uma meta-análise indicou que cada porção diária de 50 gramas de carne processada aumenta o risco de cancro do cólon e do reto em cerca de 18%. É recomendado limitar o consumo de carnes processadas e optar por uma dieta rica em frutas, vegetais e fibras capazes de prevenir o desenvolvimento da doença.
O consumo excessivo de açúcares está diretamente associado a problemas de saúde, como a obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares, sendo fatores de risco para o desenvolvimento de certos tipos de cancro. A OMS recomenda que a ingestão de açúcares livres (monossacarídeos e dissacarídeos) seja reduzida ao longo da vida, tanto em adultos como em crianças, para menos 10% da ingestão calórica total diária. Uma redução adicional para abaixo dos 5% da ingestão calórica total (corresponde a cerca de 25g) proporciona benefícios adicionais para a saúde.
Luz Sináptica
Análise Cerebrástica: É possível confirmar que esta afirmação é verdadeira, uma vez que o consumo de alimentos processados e açúcares está diretamente relacionado com o aumento das probabilidades de desenvolver cancro.