A Cidade do Pensamento
Vamos aprender mais sobre o Cancro Cerebral...
Pensa no cérebro como o uma cidade complexa – uma massa mole e esponjosa que faz parte do encéfalo e está protegida por ossos (a caixa craniana), três membranas superfinas chamadas meninges e ainda pelo líquido cefalorraquidiano, que funciona como uma almofada protetora. Este fluido circula por espaços dentro e fora do cérebro, chamados ventrículos, garantindo que tudo se mantenha seguro e no lugar.
Mas o cérebro não trabalha sozinho! Uma rede de nervos transporta mensagens em tempo real entre o cérebro e o resto do corpo. Alguns ligam diretamente aos olhos, ouvidos e outras partes da cabeça, enquanto outros percorrem a espinal medula, conectando a “cidade” ao resto do sistema. E o que faz o cérebro? Bem, ele controla quase tudo: desde as coisas que decidimos fazer, como andar e falar, até aquelas que nem sequer pensamos, como respirar. Além disso, ele é responsável pelos nossos sentidos (visão, audição, tato, paladar e olfato), memórias, emoções e até pela nossa personalidade.
Agora imagina que nesta “cidade” organizada surgem construções descontroladas- O cancro do cérebro ocorre quando as células crescem e se multiplicam de forma anormal. Estas células podem ser nativas do cérebro (tumores primários) ou visitantes indesejados vindos de outras partes do corpo (metástases). O crescimento desordenado pode perturbar as funções vitais da cidade, gerando desafios significativos.
Imagem 1 - Anatomia do Sistema Nervoso Central
Tal como numa cidade onde certos fatores podem provocar o caos, o risco de desenvolvimento de um tumor cerebral pode ser aumentado por fatores como genética, exposição a radiações, ou antecedentes familiares.
Os sinais de alerta funcionam como os primeiros indícios de um problema maior.
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Dores de cabeça (geralmente mais fortes de manhã).
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Náuseas e/ou vómitos.
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Alterações na fala, visão ou audição.
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Dificuldade em manter o equilíbrio ou andar.
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Alterações de humor, personalidade ou capacidade de concentração.
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Problemas de memória.
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Espasmos ou tremores musculares (ataques epiléticos, convulsões).
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Enfraquecimento ou formigueiro nos braços ou pernas.
Fatores de Risco
e Sinais de Alerta
Os tumores cerebrais têm uma “escala de gravidade” de 1 a 4, baseada no aspeto das células ao microscópio:
• Graus I e II (grau baixo): Crescem devagar e têm células que se parecem mais com as normais.
• Graus III e IV (grau alto): Crescem rápido e têm células mais bagunçadas.
Tumores cerebrais Primarios
São os que nascem no próprio cérebro e podem variar de acordo com o tipo de células ou a área onde aparecem. Os tumores cerebrais primários mais comuns são os gliomas, que têm início nas células gliais:
Surge nas células chamadas astrócitos (em forma de estrela). Nos adultos, aparece mais no cérebro; nas crianças, no cerebelo ou tronco cerebral.
Acontece na parte inferior do cérebro, mais comum em crianças e adultos de meia-idade.
Cresce perto dos ventrículos (pequenos espaços no cérebro) ou da espinal medula, afetando frequentemente os jovens.
É raro e cresce lentamente, começando nas células que protegem os nervos.
Astrocitoma
Glioma do tronco cerebral
Ependimoma
Oligodendroglioma
Graus do Tumor
Tumores primários, mas não Gliais:
Surge no cerebelo e é o tumor mais comum em crianças.
Meduloblastoma
Cresce nas meninges (as “capas” do cérebro) e tende a ser lento.
Meningioma
Aparece no nervo que controla o ouvido e o equilíbrio. Também é chamado neuroma acústico.
Schwannoma
Forma-se perto da glândula pituitária.
Craniofaringioma
Raros, surgem nas células germinais e surge mais em jovens com menos de 30 anos.
Tumores de células germinais
Surge perto da glândula pineal, entre o cérebro e o cerebelo
Tumor da região pineal
Tumores Cerebrais Secundários
São “visitantes indesejados”. Ocorrem quando um cancro de outra parte do corpo (como pulmão ou mama) espalha células para o cérebro. Apesar de estarem no cérebro, essas células mantêm as características do tumor original.
Para compreender a extensão do problema, os médicos utilizam ferramentas avançadas como ressonâncias magnéticas (MRI) ou tomografias computorizadas (CT scans). Estas funcionam como mapas detalhados, permitindo localizar e avaliar as áreas afetadas. Em alguns casos, é realizada uma biópsia, retirando uma pequena amostra da área afetada para análise, ajudando a identificar o tipo e o comportamento do tumor.
No caso do cancro do cérebro, não se utiliza o sistema tradicional de estadiamento, pois os tumores estão confinados à “cidade cerebral”. Os tratamentos incluem:
Cirurgia:
A primeira linha de ataque, sempre que possível, é a cirurgia. É como enviar uma equipa de engenheiros especializados para demolir um edifício que se tornou perigoso. O objetivo é remover o máximo possível do tumor sem comprometer estruturas essenciais, como estradas principais ou pontes que conectam partes vitais da cidade. Cada movimento é pensado, calculado, para proteger as vias mais importantes.
Tratamentos
Radioterapia:
Quando a cirurgia não é suficiente, entra a radioterapia, um pouco como cortar a energia que alimenta o tumor. Feixes precisos de radiação focam-se no “invasor”, eliminando as células malignas sem danificar as construções vizinhas. É uma dança entre a ciência e a precisão, como se o sol brilhasse apenas onde é necessário.
Quimioterapia:
A quimioterapia atua nos bastidores, como se fosse uma equipa de controlo que introduz compostos químicos no sistema da cidade. Estes compostos interrompem os sinais e os mecanismos que permitem o crescimento descontrolado do tumor. É um trabalho invisível, mas crucial, que age para evitar que o problema volte a espalhar-se.
Após o tratamento do cancro do cérebro, o corpo, assim como a mente, pode reagir de várias formas. São os efeitos secundários, pequenas ondas de ressonância que surgem depois da tempestade do tratamento. O terreno pode ficar instável e é preciso algum tempo para que a normalidade se restabeleça.
Fadiga
A sensação de cansaço profundo é como o silêncio que se instala após uma grande movimentação. O corpo, cansado de tanto esforço, pede descanso, e mesmo atividades simples podem parecer extenuantes. Essa exaustão, faz com que os dias pareçam mais longos, mas com paciência, o ritmo começa a encontrar o seu lugar de novo.
Problemas Cognitivos
Após a intervenção, a mente pode sentir-se um pouco turva, como se algumas pontes que ligam as ideias tivessem sido abaladas. Pode ser mais difícil concentrar-se, recordar ou tomar decisões. São pequenos desvios nas estradas do pensamento.
Problemas de Mobilidade
Algumas vezes, o movimento do corpo pode ser mais lento. Os músculos e articulações podem ficar rígidos, e as ações mais simples, como caminhar ou erguer um braço, podem exigir mais esforço.
Alterações na Fala e Comunicação
Tal como uma estrada que se desvia temporariamente, a comunicação pode tornar-se mais difícil. A fala pode ser mais lenta ou o pensamento mais desorganizado.. Contudo, a terapia da fala trabalha incansavelmente para restabelecer as pontes da comunicação.
Apoio Psicológico
Além disso, o apoio psicológico é como um alicerce invisível que mantém a cidade de pé. A jornada contra o cancro é também emocional e a ajuda profissional permite que a mente, muitas vezes sobrecarregada, encontre força para lidar com as mudanças e com o impacto desta nova realidade. Com o tempo, as cicatrizes emocionais podem ser suavizadas, e o espírito ganha uma nova resiliência.
Efeitos Secundários
Após o tratamento, começa uma fase fundamental para a recuperação: a reabilitação. Vamos restaurar uma cidade que sofreu um grande impacto. Cada pedaço deve ser cuidadosamente tratado para que a vida possa voltar a fluir como antes.
Fisioterapia
A fisioterapia é a mão que guia o corpo de volta ao movimento. Com cada exercício, o corpo encontra a sua forma, começa a restaurar os seus passos, os seus movimentos. Cada progresso, por mais pequeno que seja, é uma vitória no caminho para a recuperação.
Terapia da Fala e Ocupacional
A terapia da fala é o processo de restaurar a capacidade de se comunicar, de dar voz ao que está dentro. A fala, e as atividades do quotidiano podem ter sido afectada, mas através da prática e do acompanhamento, elas começam a fluir novamente. Como um arquitecto, o terapeuta ajuda a construir novas pontes entre o pensamento e a expressão, permitindo que o paciente recupere o seu diálogo e as suas atividades com o mundo.
Apoio Psicológico
A jornada emocional também precisa de cuidados especiais. O apoio psicológico é o abrigo que oferece proteção contra a tempestade emocional que pode seguir o tratamento. Cada paciente precisa de um espaço seguro para lidar com as cicatrizes internas, aquelas que não são visíveis aos olhos, mas que marcam profundamente. O psicólogo funciona como o cuidador da alma, ajudando a pessoa a lidar com as mudanças, a adaptar-se à nova realidade e a encontrar um novo equilíbrio. Com o tempo, as fundações emocionais tornam-se mais fortes, e o paciente reconquista a sua essência, capaz de olhar para o futuro com esperança.
Reabilitação e Apoio
Conclusão
Os diferentes lobos cerebrais podem ser vistos como bairros especializados, cada um com funções específicas, como o processamento de visão ou tomada de decisões. A energia elétrica que percorre o cérebro é comparável à eletricidade que alimenta a cidade, essencial para manter todas as operações ativas.
Tal como uma cidade, o cérebro trabalha de forma integrada, com cada elemento contribuindo para a harmonia do todo, tornando-o uma estrutura fascinante e indispensável para a vida.
Fontes: Infocancro e Liga Portuguesa Contra o Cancro
O cérebro é a cidade que nunca dorme. Os neurónios são os habitantes e trabalhadores, responsáveis pelas mais variadas tarefas, as sinapses representam as ruas e avenidas, onde circulam todas as informações entre as diferentes áreas. Os neurotransmissores, por sua vez, são os veículos que transportam essas mensagens, garantindo que elas chegam ao destino certo.