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A Esperança na Luta Contra o Cancro Cerebral:
O Apoio da Família e a Mente Estável

   Receber um diagnóstico de cancro cerebral é um momento que marca, não só o paciente, mas também a sua família. A notícia de um tumor no cérebro desencadeia uma série de reações que vão muito além da dor física – afeta o psicológico, as emoções e a própria estrutura da vida quotidiana. Esta reportagem aborda a importância do apoio familiar, da estabilidade mental e do verdadeiro amor na luta contra o cancro cerebral, através das palavras de quem passou por isso: Sérgio de Medeiros, um paciente diagnosticado com tumor cerebral, e João Alvarez, psicólogo clínico.

    Para Sérgio de Medeiros, o diagnóstico chegou de forma inesperada. “É um choque. Estava eu há duas horas atrás a tomar o pequeno-almoço", conta-nos enquanto reflete sobre o momento em que soube do tumor cerebral. Mas para Sérgio, um homem que a vida tornou pragmático, o primeiro pensamento foi: “Qual será a resolução?”

      João Alvarez, psicólogo, explica como este impacto psicológico é comum em casos de cancro. "Quando a palavra 'cancro' é dita, é como se o pior cenário que a pessoa poderia conceber se tornasse realidade", afirma João.

"A mente entra em choque, e é nesse momento que o apoio psicológico, muitas vezes, se torna crucial. O paciente não está só a lidar com a doença, mas com o medo, com a incerteza, com a ansiedade e, não raramente, com a sensação de perda de controlo sobre a própria vida."

       Depois de saber que iria ter de ser operado o mais depressa possível, Sérgio recebeu outra notícia. A operação teve de ser adiada sete dias. “Por causa do AVC que eu tinha tido há uns anos atrás, eu fiquei a tomar anticoagulantes, antiagregantes plaquetários e o antiagregante plaquetário o que faz é, se eu tiver uma hemorragia ela não para.”

       Durante o nosso dia a dia sete dias podem parecer pouco, mas para Sérgio “foram sete dias de terror, porque foram sete dias com convulsões cada vez maiores e com cada convulsão que eu tinha fui desligando um bocado do meu corpo do lado direito".

Imagem 3 - Point of view de um paciente no hospital

       No meio da tempestade, Sérgio salienta que o apoio da família é fundamental. “O que verdadeiramente me fez ultrapassar isto tudo, sempre com uma vontade enorme de resolver as coisas e de ir para a frente, foi a minha família. No fundo a minha família toda, os meus filhos, a minha mulher, o que eles fizeram por mim".

"Aí foi um ensinamento muito grande porque eu acabei por perceber como é que o nosso corpo funciona, acabei por perceber que o corpo não é meu, eu habito aqui dentro”

       Para o psicólogo João Alvarez, a importância da família vai muito além do apoio físico. "Em momentos de crise, o que é mais importante é a estabilidade emocional que a família oferece. Não se trata só de ajudar com as tarefas diárias, mas de estar lá emocionalmente.

"Quando as famílias estão fortes, é mais fácil para o paciente encontrar forças para enfrentar o tratamento."

       No entanto, João destaca que este apoio não deve ser subestimado também em relação aos familiares. "O cancro não afeta apenas o paciente. Estudos mostram que sintomas como ansiedade e depressão são quase tão prevalentes nas famílias quanto nos pacientes. O papel do psicólogo, nestes casos, é ajudar não só o paciente, mas também a família, a lidar com os seus próprios medos e ansiedades."

       O apoio da família é essencial, mas a mente do paciente também precisa de estar saudável para lidar com o tratamento. Para Sérgio, a manutenção de uma mente estável tem sido uma prioridade ao longo da sua jornada. “Uma pessoa não se pode sentir culpada porque lhe apareceu um caroço na cabeça, acho que isso é a primeira coisa que a pessoa tem de tirar de cima. Quando as pessoas entram por caminhos desses, então entram em depressões”, diz-nos Sérgio.

       João Alvarez reforça que uma mente equilibrada tem um impacto direto no tratamento e na qualidade de vida do paciente.

"Enquanto psicólogo, o trabalho é tentar perceber, naquele momento, o que está a ser a maior fonte de sofrimento. Muitas vezes, a ansiedade, o medo da morte ou a perda de identidade são as questões que mais afetam os pacientes. Abordar estes temas de forma aberta e tranquila pode aliviar a carga emocional e ajudar no processo de recuperação."

"Eu chamo-lhe amor. Para mim o amor, o verdadeiro amor, é que leva as pessoas para a frente”

       O psicólogo também salienta que as famílias precisam de compreender que a mente do paciente deve ser trabalhada ao longo de todo o tratamento. "É muito importante que as famílias estejam preparadas para lidar com os altos e baixos emocionais do paciente. Uma mente saudável e estável é crucial, mas isso requer tempo e compreensão."

      Para Sérgio, a esperança nunca se apaga: “Para mim, tudo aquilo a que as pessoas chamam normalmente, como religião, eu defino por um nome, que toda a gente conhece e muita gente não pensa nisso.

       Sérgio lembra que o amor, o apoio e a esperança são os verdadeiros combustíveis nesta batalha contra o cancro cerebral. E, para ele, essa união é o que traz os melhores resultados. João Alvarez, por sua vez, reforça a ideia de que o psicológico desempenha um papel essencial.

"O cancro é apenas uma palavra. A forma como lidamos com ela, a forma como nos apoiamos uns aos outros, é o que realmente define o caminho que seguimos."

       A luta contra o cancro cerebral é, acima de tudo, uma jornada humana, repleta de fragilidade e força, de dor e de resiliência. Sérgio de Medeiros mostra que, mesmo nas circunstâncias mais desafiantes, o amor triunfa. A sua história é um retrato do poder transformador do apoio familiar e da força mental, provando que, mesmo diante do desconhecido, a esperança pode florescer.

       João Alvarez lembra que o cancro não é apenas um diagnóstico médico, mas sim um desafio que impacta profundamente o paciente e os seus entes queridos. Ao enfrentá-lo com equilíbrio emocional, compreensão mútua e o laço inquebrável do amor, é possível transformar o que parece insuperável numa jornada de superação.

      Nesta luta, o verdadeiro triunfo não é apenas sobreviver, mas encontrar, no meio do caos, a essência mais simples do ser humano: o desejo de cuidar, a força de acreditar e a coragem de amar. Afinal, como disse Sérgio, é o amor, que fomenta a esperança.

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Sem título - Fotografia por Sérgio de Medeiros 

"Uma escada que sobe, das trevas até à luz.

Hospital de Santa Maria, em Lisboa. 

No topo da escada, 9º piso, fazem-se os milagres.

Há 6 anos estive internado no 7º piso, neurologia.

Há 4 meses estive internado no 8º piso, neurocirurgia.

Há 4 meses fui operado no 9º piso, neurocirurgia.

Verdadeiramente, nunca foi tão clara a espiral de subida em relação à luz.

É na luz que os milagres acontecem.

Mas não acontecem sem a mão, o saber, a paciência, o trabalho, empenho e esforço de todos aqueles que ali trabalham e lutam para nos salvar.

Mais uma vez, o meu profundo agradecimento vai para todos eles, e não posso deixar, uma vez mais, de louvar todos os profissionais de saúde do Hospital de Santa Maria que mais uma vez me salvaram e que me permitiram a subida ao 9º piso para que possa continuar a ver a luz."

Poema por Sérgio de Medeiros

7/02/2021

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Projeto e Website realizado por:
Frederico Espírito Santo, João Luz, Láisa Viegas & Luna Esteves

Agradecimentos Especiais:
Professor Élmano Ricarte

UC Laboratório de Comunicação Digital
3º Ano da Licenciatura em Ciências da Comunicação
2024/2025


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